Paraná
29.11.2021O Paraná foi um dos primeiros estados do Brasil a retomar as aulas presenciais. A medida tinha dois objetivos. O primeiro era pedagógico. Embora o estado tenha sido um dos poucos a ter uma frequência on-line de aulas, com grade regular de ensino, as pesquisas mostram que as crianças e adolescentes aprendem mais em sala de aula. O segundo também era pedagógico mas, acima de tudo, humanitário. Com a volta às escolas, professores e funcionários puderam identificar os casos de fome ou insuficiência alimentar na rede estadual de ensino e, diante disso, estabelecer um plano de ação.
“Temos crianças que repetem o prato três, quatro vezes. É a única refeição que elas fazem no dia”, diz Helena Franzóia Louzada, diretora do Colégio Estadual Pedro Fecchio, em São Tomé. Diariamente, são servidas cerca de 800 refeições para os quase 400 estudantes que frequentam a escola. Os 15 minutos do recreio, às vezes, não são o suficiente para que os alunos se sintam satisfeitos com o lanche — os funcionários, então, estendem o horário, para que os estudantes possam comer mais.
A diretora relata que, devido à pandemia e ao fechamento de uma usina e de uma empresa de fécula que funcionavam na cidade, o desemprego aumentou. Com a falta de renda, muitas famílias de estudantes não conseguem ter três refeições completas todos os dias.
“Nossa merenda é essencial na vida do nosso aluno. Temos crianças que estão sempre perguntando as horas porque estão com fome, ainda não comeram nada e querem que chegue logo a hora da merenda”, conta Helena. “A comida faz muita diferença. Criança com estômago vazio não aprende.”
Essa é mais uma razão, segundo a diretora, para que a escola ofereça sempre refeições variadas e saudáveis. Bem-alimentados, os alunos conseguem se concentrar mais nas aulas e melhorar seu desempenho — e o resultado pode ser visto na prática. O Colégio Estadual Pedro Fecchio, por exemplo, é o que teve maior pontuação no último Ideb entre as escolas em áreas de maior vulnerabilidade social no Núcleo Regional de Educação de Cianorte.
Em 2021, houve um investimento de R$ 132 milhões em merenda escolar. Destes, R$ 57 milhões garantiram a compra de 9 milhões de quilos de alimentos não perecíveis, ovos e congelados. Os outros R$ 75 milhões foram destinados para a agricultura familiar, adquirindo frutas, verduras e legumes que complementaram a merenda. As associações e cooperativas de pequenos agricultores forneceram às escolas estaduais, neste ano, 12 milhões de quilos de alimentos.
No Colégio Estadual Inocêncio de Oliveira, em União da Vitória, a diretora também percebeu um aumento do número de alunos em insegurança alimentar. “Quando retornamos [às aulas presenciais], vimos que algumas famílias realmente estavam passando por necessidades. Muitos pais perderam o emprego na pandemia, principalmente quem trabalhava informalmente”, afirma Janete Febben.
Diariamente, a escola serve dois lanches (um para as turmas da manhã e outro para as turmas da tarde), além de almoço para os estudantes que têm aulas no contraturno, como no programa de reforço Mais Aprendizagem, na sala de recursos multifuncionais (destinada a estudantes com deficiência ou com altas habilidades) e em atividades extracurriculares. Há, no entanto, casos de alunos que não têm aulas no contraturno, mas que pediram permissão para almoçar na escola também, uma vez que, em casa, a comida é mais escassa.
“A merenda é super importante, tanto que o cardápio é de comida mesmo: feijão, arroz, quirera, polenta. Coisas mais consistentes. Também tem o lanche, com bolacha, suco e as frutas que estiverem disponíveis”, descreve a diretora Janete. “Sempre garantimos que eles possam repetir.”
O colégio, em 2022, terá todas as turmas do Ensino Fundamental em tempo integral — passando 9 horas por dia na escola. A previsão é de servir 150 almoços diários, compostos por itens da merenda e por vegetais vindos da agricultura familiar local. “Não é só comer, é preciso comer bem, comida saudável”, diz Janete. “Temos sempre que defender a merenda escolar. Ela é essencial para os alunos. Uma criança mal alimentada não estuda direito.”
Para o próximo ano, a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte do Paraná (Seed-PR) está estudando medidas para ampliar a oferta de merenda, tanto em qualidade quanto em quantidade, para os estudantes de todas as escolas da rede pública estadual de ensino.