Paraná
25.04.2022Criado em 2019, o programa Presente na Escola, da Secretaria estadual da Educação e do Esporte, vem se aprimorando cada vez mais para manter e atrair os estudantes da rede estadual de ensino. Ele mostra a importância da presença integral em sala de aula.
Neste ano letivo de 2022, o objetivo principal é, justamente, a permanência dos estudantes, com um conjunto de estratégias, com busca ativa, para aumentar a participação e prevenir possíveis abandonos, sem esperar que eles aconteçam para agir.
“O foco da nossa atuação é na manutenção da frequência do aluno. É tomar todas as ações para que ele permaneça na escola, para que não venha a evadir, para mantê-lo estudando”, explica o coordenador do programa na Secretaria da Educação, Orivaldo Június Alexandre.
Para poder embasar o trabalho, tanto a Secretaria quanto os Núcleos Regionais de Educação (NREs) e as escolas contam com a ferramenta Power BI (Business Intelligence), na qual é possível monitorar diariamente a presença dos alunos e saber quais locais, colégios e turmas são pontos de atenção.
Em posse desses dados, cada técnico do Presente na Escola, em cada um dos 32 NREs, faz a identificação das escolas e visita semanalmente cerca de dez delas, fazendo entrevistas para entender os motivos da situação identificada e dando o suporte para que o colégio desenvolva ações efetivas.
Orivaldo conta, como exemplo, o caso dos alunos chamados “pula-pula”, que estão indo para escola, mas eventualmente também estão faltando sem motivo. “Esse aluno às vezes escolhe quais aulas ele vai faltar. Nós observamos a ocorrência dessas faltas, se é na disciplina, se é num determinado dia, e conseguimos mapear e tomar ações em cima disso”, diz.
Isso pode ocorrer por diversos motivos e, por vezes, está no desinteresse ou na defasagem de determinado conteúdo pelo estudante. Nesses casos, a parte pedagógica atua em conjunto com o programa, oferecendo reforço ou mesmo tentando criar estratégias para motivá-los. “Para alunos com defasagem, nós temos o programa Mais Aprendizagem, no contraturno, que auxilia o aluno a se recuperar dessa lacuna que ficou, tornando a aula mais interessante e objetiva para ele”, ressalta Orivaldo.
MOEDAS DA APRENDIZAGEM – Para aumentar a participação dos alunos nas aulas de História do Colégio Estadual Castelo Branco, em Itapejara d´Oeste, a professora Silvia Copatti Bussolaro desenvolveu ainda no pré-pandemia as “Historefas” (junção das palavras história e tarefas), uma moeda que serve como bônus em dia de avaliação.
Inicialmente desenvolvida com uma turma piloto (do 3º ano) para premiar os estudantes que estavam realizando o dever de casa de forma integral, a moeda poderia ser usada para eliminar uma das cinco alternativas em uma questão de múltipla escolha, por exemplo.
“A ideia nasceu mais como incentivo do que premiação e, ao perceber que foi dando certo, com cada vez mais gente fazendo as tarefas, fui expandindo para mais turmas”, conta Silvia. Neste ano, com alunos ainda afetados pelo ritmo mais lento do ensino remoto nos anos anteriores, a professora aumentou as chances de ganhar as Historefas.
“Para fazer com que eles queiram estar na aula, faço perguntas sobre o tema da aula que estou dando e quem responde ganha, ou proponho atividades durante a própria aula. Em uma, consegui que todos os 38 alunos participassem”, explica ela, que hoje dá aula para nove turmas de todas as séries do ensino médio. Ou seja, é preciso estar presente para poder ganhar.
A iniciativa, segundo a professora, vem fazendo com que atrasos para a primeira aula deixem de acontecer, faltas diminuam e o aprendizado, em si, aumente. “A participação da turma aumentou bastante. Percebo que o pessoal presta mais atenção, quem não fazia as atividades passou a fazer. Isso ajudou bastante no hábito de estudar”, relata o estudante Eduardo Cauvilla, do 3º ano, que já gostava da disciplina e passou a estudar ainda mais ao sentir as tarefas “valorizadas”.
Para Silvia, o resultado foi além do esperado. “Não percebi desonestidade com troca de moedas entre eles, isso vale muito. Alguns alunos também ganham moedas e não usam todas, elas sobram, o que significa que estão aprendendo e que, em muitos casos, não precisam de dicas. Teve aluna que me devolveu moedas do fim do ano passado neste ano”, conta.
PRESENÇÔMETRO – Com diferentes nomes, mas com o mesmo propósito, o presençômetro é uma ação mais geral que tem dado resultado em diversas escolas. A prática é simples: consiste na divulgação da presença de cada turma no pátio para que todos vejam a evolução semana a semana.
No Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba, o painel tem ajudado a aumentar a presença, que começou o ano com 69% e hoje já passa dos 85%, com várias turmas acima dos 90%. “Quando percebem que só têm a perder quando eles não têm a presença integral, eles começam a cobrar dos seus colegas. É uma questão de pertencimento e, quando visualizam, percebem, é diferente”, diz o diretor, Otávio Lobo Neto.
Segundo o gestor, essa atitude simples em conjunto com o diálogo constante com a comunidade escolar traz resultados. “O pai [ou mãe] gosta de ser tratado por quem ele já conhece, uma escuta ativa, ter sensibilidade com a realidade dele, que vai muito além de fazer a cobrança do ‘cadê a criança, o adolescente, que não está vindo’”, explica.
Esse lado do trabalho é reforçado pela agente educacional Raquel Barivieira Taner, que mora há 30 anos no bairro do Abranches e conhece bem a maioria das famílias. “Também sou mãe, meus filhos estudaram em escola pública. Não é fácil, sempre tinha um ou outro que não queria ir, mas preciso mostrar que é importante. Sei que a luta é difícil, eles [jovens] querem mostrar resistência, mas digo para a mãe que ela tem que ser forte”, completa.
Responsável por atualizar o presençômetro, Raquel conta do entusiasmo dos alunos ao bater e traçar as próximas metas, mas ressalta o passo anterior, dos que não estão ainda nessa “fase”. “O nosso trabalho aqui é de formiguinha. O aluno, quando vem para a escola, tem que ser bem acolhido. Chamo eles de ‘riquezinha’. No primeiro momento, tem que ser acolhido e passar isso em casa, que estão bem acolhidos na escola, passar para os pais. É a nossa função também como educadores. A escola pública é boa e tem que ir para a escola sim”, finaliza.