Sergipe
05.09.2023O Colégio Estadual Prefeito Anfìlófio Fernandes Viana, em Umbaúba, território Sul Sergipano, está desenvolvendo pesquisas com o intuito de motivar a iniciação científica e levar alternativas para a comunidade, principalmente na reutilização de subprodutos que seriam descartados de forma inadequada na natureza.
Entre os projetos desenvolvidos estão: a construção de uma casa com tijolos sustentáveis produzidos da fibra do coco; produção de vasos e artesanatos confeccionados com a fibra da cana-de-açúcar; a extração de corante e tinta do substrato do jenipapo; vinagre produzido da manipueira (caldo da mandioca) que seria dispensada nas casas de farinha de Sergipe.
Os projetos foram apresentados na Feira de Ciência e Tecnologia (Fecintec) e receberam o apoio da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc). Dentre eles, o projeto “Fibra de Cocos Nucifera: Uma Alternativa Sustentável na Produção do Tijolo de Solocimento”, orientado pelo professor de Biologia e Química, Makel Bruno, e coorientado pelo ex-aluno do colégio e universitário, Alisson Souza, que traz uma alternativa para o descarte do bagaço do coco, bastante encontrado em toda a região nordestina, além de produzir tijolos sustentáveis.
“Identificamos que o consumo do coco na região tem grande relevância e juntamente com esse hábito há um problema: o descarte da fibra. Pesquisamos, buscamos uma solução. Juntamente com o tijolo que já existe, o solocimento, incluímos a fibra do coco, fizemos o teste e verificamos que o tijolo é mais resistente e é completamente sustentável, porque não utilizamos fornos para poder secar. A cura dele é natural, dura em torno de sete dias para que ele possa ser utilizado em qualquer obra da construção civil”, explica o professor Makel Bruno.
Participam do projeto as alunas da Educação de Jovens de Adultos Valdemira de Jesus Santos, Deuslene dos Santos e Margarida Santos, que desenvolveram mais de 120 tijolos, participaram dos testes de resistência e compressão das peças. O próximo passo é realizar o teste de temperatura para saber se os tijolos absorvem o calor externo da construção.
Para o coorientador Alisson Souza, que também é ex-aluno da escola e primeiro participante do projeto “Tecnologia Alternativa e Sustentável no Combate à Mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi Ashby – Aleyrodidae)”, desenvolvido ao longo de 2020 e 2021, diz que, além de gerar alternativas, projetos como esses do Colégio Anfilófio Fernandes também são importantes para motivar o protagonismo juvenil e a democratização das ciências. “Precisamos aproximar a educação básica da academia, e esses projetos são muito importantes”, destacou.
Quanto ao projeto no combate à mosca negra na região citrícola do estado, iniciado no colégio por meio da orientação do professor Pedro Ernesto Oliveira da Cruz, Alisson Souza, hoje estudante de Biologia, deu novos rumos. “Conseguimos levar o projeto para a UFS, desenvolver novos testes, estamos quase finalizando, e a próxima etapa é patentear, para que seja comercializado”, afirmou.
Do caldo da mandioca, o vinagre
A manipueira, também chamada em outras regiões de tucupi, é o caldo proveniente da prensa da mandioca, que no Nordeste é encontrado, principalmente, em casas de farinha como subproduto na produção de comestíveis e farináceos. Se não descartada de forma inadequada, pode gerar poluição ao meio ambiente, devido à presença do ácido cianídrico, um líquido venenoso e nocivo à alimentação humana e animal.
São mais de três mil casas de farinha catalogadas em Sergipe, muitas das quais estão localizadas em Umbaúba. E essas casas, além de produzirem a tapioca, a farinha, os beijus e demais guloseimas, geram também a manipueira, cujo descarte, por vezes, faz-se inadequado.
Os alunos da 2ª série do Ensino Médio, Alana Melo, Daiemelly Duó, Maria Carolina, Karolaine Pereira e Jailson Fonseca, também orientados pelo professor Makel Bruno, tiveram a ideia inovadora de transformar o caldo da mandioca em vinagre, com o projeto “Substrato de Manipueira (Manihot esculenta): Uma Alternativa Sustentável na Biossíntese de Vinagre”.
“A manipueira é coada e misturada com maçãs amassadas e em seguida, colocada em decantador caseiro feito por nós, deixada sob o sol por um período, no mínimo de 15 dias. É de baixo custo, sustentável, e o vinagre serve para o nosso dia a dia”, disse a aluna Karolaine Pereira.
O projeto ficou em 1º lugar na Feira de Ciências do Colégio Anfilófio Fernandes e está inscrito em outros eventos científicos, por ser uma iniciativa inovadora. A pesquisa está na fase de testes e como envolve consumo humano, necessita de experimentos de uso com segurança.
O jenipapo e a cana de açúcar
“A Utilização do Bagaço da Cana de Açúcar na Produção de Artesanato” e “Os Benefícios do Jenipapo: Exploração da planta e do fruto”, ambos orientados pelo professor de Matemática, Júlio José, e protagonizados por estudantes do 1º ano da Educação de Jovens e Adultos do Ensino Médio, também engrossam o título de polo de iniciação científica para o Colégio Anfilófio.
O projeto que utiliza o bagaço da cana gera expectativa por endereçar o que antes seria descartado à confecção de produtos sustentáveis. “O bagaço é fervido com água durante uns trinta minutos e triturado no liquidificador e coado. A fibra é secada ao sol e é misturada com amido de milho com a adição de colheres de vinagre. Vai modelando a forma que quiser e secar depois ao sol novamente”, explica a estudante Juliane Neves. Também participam do projeto Claudineire Souza e o aluno Caique Moreira.
Caique Moreira afirma que a fibra virgem da palha da cana produz caqueiros, que podem substituir o plástico no plantio de mudas, e ao longo do tempo, dissolvem-se e servem como adubos naturais. “Não contaminam o meio ambiente e são biodegradáveis”, destacou.
O jenipapo, que significa na língua tupi ´fruta que serve para pintar´, também ganhou outra serventia, não somente para a produção de sucos, geleias, licores e derivados. Literalmente, do fruto verde retira-se um corante natural que pode ser utilizado como tinta ou comestível.
“Quanto mais verde o jenipapo, a tinta apura melhor. Primeiro rala, leva ao fogo em torno de quatro a cinco minutos, espreme e retira a tinta”, conta Josivânia Limeira, que juntamente com Michael Bruno, Ana Clessia, Williane Silva, Gabriele Passos, Magno Gabriel e Lucas Simão fizeram os primeiros experimentos na escola.
Segundo a diretora, Simone Ávila, há uma temática anual a ser desenvolvida nos projetos científicos do colégio, a qual é escolhida pela comunidade escolar no início do calendário letivo. Cada professor fica com dois projetos a serem desenvolvidos ao longo do ano e apresentados na Feira de Ciências. A temática de 2023 foi sustentabilidade alimentar. “A intenção é de que a comunidade aproveite essas ideias. Os professores e alunos continuam desenvolvendo as pesquisas, apresentam em feiras e geram bons frutos”, avaliou.
Também estão sendo desenvolvidos os projetos “Óleo de coco: benefícios e extração”, “Importância dos Sucos Detox na alimentação”, “Microscopia e Análise de PH do Alimento Água de cisternas”, “Produção de Filtro para instalar em caixas de água da ETA”, “Valorização do trabalho do Campo”, “Explorando a segurança alimentar e nutricional”, “Extrativismo sustentável: utilização da palha do Oricuri na confecção de vassouras artesanais”, “Alimentos do campo: uma amostra do que temos a oferecer”, “Saneamento Básico”, “Alimentos adequados e Saudáveis”, “Gastronomia Molecular”, “ Plantas Alimentícias Não Convencionais”, “Carlos Matemática= Agricultura Familiar”, “Da laranja ao suco”, “Valorização do trabalho no campo”, “Explorando a Segurança Alimentar e Nutricional”.