Paraná
27.05.2024Enquanto as águas das enchentes custam a baixar em boa parte do Rio Grande do Sul, permanece ativa a onda que inundou de solidariedade todos os cantos do País com campanhas de arrecadação para as vítimas. Não foi diferente com os estudantes da rede estadual de ensino do Paraná, com idades entre 11 e 17 anos, que constroem materiais, escrevem cartas, doam livros, itens pessoais, em uma onda de solidariedade que envolve toda a comunidade escolar.
No Colégio Estadual Florestal de Educação Profissional Presidente Costa e Silva, em Irati, no Centro-Sul, alunos e professores constroem em conjunto 100 camas com madeira sustentável com ferramentas que utilizam no dia a dia da escola, nas aulas práticas. “Em princípio, seriam 50 camas, mas pela situação em que as vítimas estão nos abrigos, dormindo no chão, resolvemos dobrar o número”, conta o diretor Igor Zampier.
As camas serão enviadas pré-montadas pelo Corpo de Bombeiros do município, acompanhadas de travesseiros e jogos de cama doados pela comunidade escolar. “Com essa onda de frio que os gaúchos enfrentam, acredito que as camas serão úteis para eles dormirem mais aconchegados", diz Rafael Elias Kutz, um dos alunos.
O colégio, que oferta Ensino Médio regular e matérias específicas que envolvem todo o ciclo de produção da madeira, funciona há meio século e foi o primeiro da América Latina a oferecer curso técnico na área florestal. Da instituição, em regime de internato, os estudantes já saem com uma profissão.
“Ficamos muito emocionados com a adesão espontânea dos alunos e com a forma com que eles prepararam tudo isso, a dedicação, o carinho, a responsabilidade e ainda resolveram, junto com as camas, escrever cartas de incentivo para quem vai receber, levando um pouco mais de esperança aos gaúchos”, conta o diretor.
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CARTAS – As cartas com destino ao Rio Grande do Sul não terão como remetentes apenas os estudantes de Irati, mas alunos de outros municípios paranaenses, entre eles, Ponta Grossa e Curitiba. No Colégio Estadual Dom Orione, no bairro Portão, na Capital, alunos do Ensino Fundamental preferem que as correspondências, escritas por eles, cheguem às mãos das crianças e adolescentes acompanhadas de livros infantis e juvenis, brinquedos e outras lembranças. Até agora, o grupo já encheu quatro caixas de livros.
Cartas com itens pessoais de valor sentimental para os alunos do Colégio Cívico-Militar Professor Colares, de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, estão sendo enviadas com endereço certo: uma ONG gaúcha que atende adolescentes da mesma idade dos estudantes. São colares, broches, chaveiros, brinquedos, balas, livros, tudo identificado com as iniciais dos alunos e com o endereço do colégio.
“A intenção é que, em caso de alguma manifestação, algum retorno de quem recebeu, seja possível saber qual aluno que enviou, e assim que eles possam criar vínculos de alguma forma”, indica a professora de Projeto de Vida, Mirian Leoni Andrioli, que executou a ação.
O Colégio Estadual Flávio Ferreira da Luz, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba, arrecadou entre os alunos e comunidade escolar alimentos, água, roupas e produtos de higiene. Foram divulgados vídeos dos alunos pedindo doações nas redes sociais e nos grupos dos pais. Com a grande quantidade de colaborações recebidas, a escola enviou, no dia 8 de maio, uma primeira leva do material recebido.
“Toda a escola se envolveu muito com as ações”, afirma a professora Regiane Aparecida Cioffi Lesniewski. “As doações são fundamentais neste momento de vulnerabilidade. Doar é um ato de amor ao próximo, de empatia, de se colocar no lugar daquele que está necessitando”, diz.
“Através das doações, a gente pode verdadeiramente fazer a diferença na vida das famílias que foram afetadas pelas grandes enchentes”, acrescenta a estudante Mariane Ferreira Gonçalves Bochoski.
Também arregaçaram as mangas e gravaram vídeos pedindo ajuda os estudantes do Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, no bairro Capão da Imbuia, e os do Colégio Estadual Manoel Ribas, no Prado Velho, ambos em Curitiba, que já entregaram na sede dos Correios dezenas de caixas com roupas e calçados. “As meninas da minha sala e eu separamos muitas coisas que estavam em bom estado e fizemos vídeos para o TikTok”, diz a aluna Maria Eduarda Ferreira dos Martyres, do Colégio Estadual Leôncio Correia (Curitiba).
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COLETIVIDADE – Seja por meio de campanhas, ou em formato de gincanas, os colégios estaduais Elias Abrahão, Guarda Mirim, Leôncio Correia, CCM Joao Paulo II, CCM Ermelino de Leão, CCM Getúlio Vargas, CCM Cruzeiro do Sul, C.E. Pilar Maturana, C.E. Guilherme Jacobuzi, C.E. Algacyr Maeder, C.E. Gelvira Corrêa Pacheco, C.E. Santa Cândida e C.E. Maria Montessori, todos de Curitiba, se reuniram em uma grande ação coletiva e também estão realizando diversas campanhas de arrecadação, desde o início do mês de maio.
A diretora do Colégio Estadual Guarda Mirim, Débora Queiroz, conta que a mobilização foi feita em parceria com uma loja de moto aquática, que colaborou de forma voluntária nos resgates das vítimas e no transporte de mantimentos para as famílias desabrigadas ou desalojadas pelas chuvas. “Quando estamos aqui trabalhando como funcionários públicos, e com estudantes e pais, muitas vezes não conseguimos, não temos condições de nos deslocarmos até lá, para podermos ajudar. Essa parceria foi fundamental”, diz.
Somente uma turma de alunos do Ensino Médio do Leôncio Correia conseguiu, em dois dias, arrecadar 456 unidades de garrafinhas de água e mais de 220 peças de roupas. “Me sinto feliz e orgulhosa dos meus colegas por toda a mobilização”, diz a estudante Vitória Weigert Rodrigues.
A próxima ação no colégio será a campanha “Dogão do Sul". “Vamos fazer cachorros-quentes, que vão ser vendidos para a comunidade, e a renda será destinada para comprar mantimentos e água para o pessoal do Rio Grande do Sul”, completa o diretor do Leôncio Correia, Marcello Monteiro.