Aluno destaque na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica poderá representar Brasil em olimpíadas internacionais

Ceará

09.05.2024

O estudante César de Araújo Oliveira, de 16 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio técnico em Informática na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Isaías Gonçalves Damasceno, em São Benedito, está entre os destaques da última edição da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Após ter conseguido medalha de ouro na prova, o jovem foi convidado pela organização do certame para participar de seletivas mais avançadas, que poderão levá-lo a representar o Brasil em olimpíadas internacionais.

Neste momento, César apronta-se para viajar ao Rio de Janeiro, pela terceira vez desde o início da competição, onde permanecerá do dia 19 ao dia 24 deste mês, para participar do segundo treinamento presencial, que corresponde à etapa final da disputa.

Caso seja classificado nesta fase, César garantirá vaga em uma das duas equipes que representarão o Brasil em concursos internacionais da área: a XVII Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (XVII IOAA), que será em agosto próximo, no Brasil, e a XVII Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (XVI OLAA), que ocorrerá em novembro deste ano, na Costa Rica. Cada equipe será composta de cinco integrantes.

A Secretaria da Educação (Seduc) tem apoiado a experiência de César, com o custeio das passagens aéreas e da hospedagem, tanto do estudante, como do professor orientador, Edilson Clímaco.

Desafio

No atual estágio, César terá pela frente atividades práticas (oficinas), exercícios, manuseio de telescópios, reconhecimento de céu simulado (planetário) e céu real, construção e lançamento de foguetes. Haverá, ainda, provas teóricas e provas observacionais (reconhecimento do céu a olho nu, uso de cartas celestes e catálogos astronômicos, estimativas de magnitudes e de distâncias angulares, uso de instrumentos astronômicos, entre outros tópicos).

“Na minha visão, a astronomia é uma ciência incrível. Acho interessante como ela estuda tudo, desde movimentos de partículas, junto com a física, até o entendimento de galáxias e de todo o universo, sua origem, evolução”, considera César.

Trajetória

Até chegar aqui, porém, o estudante já vivenciou outras fases dentro da OBA. Na prova da primeira etapa da 26ª edição – que contou com o total de 244.630 alunos do Ensino Médio inscritos de todo o Brasil – o cearense foi medalhista de ouro. Com o resultado, foi convidado pela organização do evento a participar da seletiva posterior, que somou 23.465 candidatos para a realização de três provas on-line. Com o êxito obtido nesta fase, o filtro afunilou-se e restaram apenas 157 alunos no certame, que fizeram uma prova presencial, em Barra do Piraí-RJ. Como César também se saiu bem nesta etapa, foi chamado a participar dos dois treinamentos presenciais. O primeiro já foi realizado, entre os dias 7 e 12 de abril passado.

“Comecei a fazer a OBA em 2021, conseguindo medalha de ouro. Desde então, veio o interesse pela área da astronomia, astrofísica, física, matemática e química. Fiz a OBA novamente nos anos de 2022 e 2023, quando consegui medalha de ouro em cada edição. A OBA leva o aluno a um modo de pensar e de aprender diferente”, aponta César, que já é um veterano medalhista.

A partir do treinamento presencial, o jovem passou a se deparar com conteúdos considerados ainda mais complexos, a exemplo de cálculo diferencial integral, equação de schrodinger e coordenadas esféricas, temas que não fazem parte do currículo regular do Ensino Médio. Em relação a este último assunto, o professor de César disse tê-lo visto apenas quando já estava cursando o Mestrado.

“Ele se reúne com os amigos, da turma dele e das outras, e organiza revisões antes das provas. Por isso, é muito querido pelos demais. Tem um potencial incrível e é um grande ser humano. Também já deu tutoria em outra escola da região e demonstra disponibilidade para dar suporte a outras que queiram adotar a iniciativa como projeto. Hoje vejo o César entre os melhores alunos de astronomia do país, o que me deixa muito feliz, e espero que ele sirva de exemplo para vários outros, mostrando que por meio da educação a gente pode tudo”, destaca o professor Edilson Clímaco, observando que o aluno tem espírito solidário, além de talento para a aprendizagem.

Superação

Filho de agricultores e morador da zona rural de São Benedito, César é o mais velho de cinco irmãos. Até bem pouco tempo atrás, havia apenas um único aparelho celular na casa para toda a família. Após a repercussão das conquistas acadêmicas, César ganhou o próprio dispositivo, que tem utilizado para complementar os estudos.

O pai do estudante, Paulo César de Oliveira, observa que “o lazer do filho é o estudo”.

“É o que ele mais gosta de fazer. Ele se dedica, eu diria, mais de 100% aos estudos. Pois quando chega em casa da escola, às 18h, estuda até às 23h. Sábado e domingo é do mesmo jeito. Ele até joga um pouco de bola, por uns 15 minutos, mas gosta mesmo é de estudar. É um privilégio muito grande vê-lo alcançar voos tão altos, o que me deixa lisonjeado. Mérito dele e de toda essa equipe de apoio. Agradeço a Deus e ao suporte da Seduc para que o meu filho consiga realizar este feito”, comemora.

Incentivo

O professor Edilson explica que na EEEP Isaías Damasceno existe a cultura de incentivo à participação de alunos em olimpíadas e eventos científicos. “Agradeço aos professores, alunos, gestores, à coordenação da Crede 5 (Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação), que acompanham de perto a nossa caminhada. Nosso projeto cresceu e saiu dos muros da escola. Toda a cidade ficou na torcida pelo César. Em nenhum momento eu trabalhei sozinho. Sinto muito orgulho da escola pública, da qual eu fui aluno. E fico muito feliz em poder, de alguma forma, contribuir para que a educação do Ceará se desenvolva. Vejo escolas que se destacam, com profissionais excelentes, que vestem a camisa”, ressalta.

Além da medalha de ouro na OBA, César também conquistou o reconhecimento máximo na Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog).

“Senti-me muito feliz pelo meu esforço ter valido a pena, por ter conseguido passar em cada uma dessas fases desafiadoras. Estou me preparando cada vez mais para essa última etapa, e se for da vontade de Deus, irei passar para alguma das internacionais. Desde o início do processo mais avançado, que se iniciou em 2023 e segue agora em 2024, a escola tem me apoiado bastante, juntamente com minha família e amigos. Agradeço bastante por tudo o que recebi e estou recebendo, e espero trazer muitas outras conquistas pra escola”, avalia o estudante.

“O que tenho a dizer aos meus colegas, estudantes de escola pública, é que acreditem nos sonhos de vocês, tenham esperança e fé em Deus, lutem, persistam, resistam e sejam determinados, que o momento de recompensa chegará”, finaliza.

Sobre a OBA

A Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) é realizada anualmente pela Sociedade Astronômica Brasileira, em parceria com a Agência Espacial Brasileira. A OBA tem por objetivo fomentar o interesse dos jovens pela astronomia, astronáutica e ciências afins.

Aplicada por meio de uma prova única, a OBA é dividida em quatro níveis. O nível 1 é aplicado em estudantes do 1º ao 3º ano do Fundamental. O nível 2 é destinado a alunos do 4º ao 5º ano. O nível 3, do 6º ao 9º ano. Já o nível 4, é direcionado ao Ensino Médio. A prova possui dez perguntas, sendo sete de astronomia e três de astronáutica.

Os melhores classificados no nível 4 são convidados para participar de seletivas que escolhem os alunos que vão representar o país nas Olimpíadas Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA) e na Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA).

Antes de encarar uma olimpíada internacional, os estudantes precisam atingir uma alta pontuação na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) do ano anterior. Em seguida, são convidados para participarem de diversas etapas de classificação, com provas e treinamentos on-line e presenciais até a escolha final da equipe que vai representar o país.

 

Texto: Bruno Mota - Ascom Seduc-CE

Foto: arquivo pessoal