Acre
18.11.2024Como regra, as metas e objetivos da rede estadual de educação tem sido com o ensino fundamental, anos finais, e também com o ensino médio. Mas isso não significa que a alfabetização não esteja dentro dos planos e estratégias traçadas pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE).
Para se ter uma ideia desse compromisso, das 616 escolas da rede estadual, nada menos do que 110 são voltadas para o ensino fundamental, anos iniciais, o que inclui alunos do primeiro e segundo anos que estão em processo de alfabetização.
Entre essas ações voltadas para a alfabetização está uma parceria com o Ministério da Educação (MEC), por meio de uma política territorial chamada de compromisso nacional de alfabetização, alfabetiza Acre. Por ele, as crianças devem se alfabetizadas até o segundo ano do ensino fundamental, anos iniciais.
O alfabetiza Acre estabelece, entre seus princípios, a promoção da equidade educacional, considerando aspectos regionais, sócio-econômicos, étnicos-raciais e de gênero, a colaboração entre os entes federativos e o fortalecimento das formas de cooperação entre estados e municípios.
Entre as metas pactuadas para melhorar os resultados da alfabetização em nosso Estado estão o apoio técnico e financeiro da União para melhorar a infraestrutura física e pedagógica das escolas, a oferta de materiais didáticos complementares para estudantes, além de materiais pedagógicos para os professores, com sistema de avaliação.
Outra ação importante realizada pela SEE, em parceria com diversas instituições como Conselho Estadual de Educação (CEE) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) foi a realização de três ciclos formativos para articuladores regionais e municipais.
Também estão sendo realizadas avaliações formativas, dentro do compromisso nacional. Até agora foram realizadas duas avaliações formativas em todas as escolas da rede estadual. Essas avaliações estão sendo disponibilizadas também para as redes municipais. E até dezembro será realizada uma avaliação somativa censitária para alunos do segundo e quinto anos.
Acompanhamentos pedagógicos
Além dos três ciclos formativos voltados para a alfabetização de alunos do primeiro e segundo anos, a SEE também realiza acompanhamentos pedagógicos voltados para a questão da rotina dos professores. Os assessores pedagógicos vão até às salas de aula para saber como estão sendo desenvolvidas as atividades de alfabetização.
Além disso, a coordenação do núcleo de alfabetização da SEE, sob a coordenação da professora Conceição Lima, realiza a elaboração de cadernos, dois para o primeiro ano e dois para o segundo ano.
Ela explica que agora em outubro, além de todas as ações que são realizadas, será feita uma formação para os coordenadores pedagógicos, que orientarpa para um plano emergencial a ser executado até o dia de aula do ano letivo. “Analisamos as avaliações diagnósticas e percebemos um percentual de crianças que ainda não foram alfabetizadas no segundo ano”, explica.
Para se ter uma ideia do trabalho do núcleo de alfabetização, apenas em Rio Branco são 63 escolas que trabalham com o ensino fundamental, anos iniciais. São escolas urbanas seriadas e rurais multisseriadas. Em todo o Estado são 110 escolas, contabilizando 4.938 alunos no primeiro ano e 5.761 alunos no segundo ano.
Alfabetização indígena
O governo do Acre também se preocupa com a alfabetização da população indígena em nosso Estado. De uma população de 830 mil habitantes, o Estado tem em torno de 31,6 mil indígenas, o que representa 3,82% da população, que está dividida em pelo menos 12 terras indígenas.
Dentro da população indígena, os jovens entre 15 a 19 anos tem o maior percentual de alfabetização, chegando a 90,55% dessa faixa etária. Entre a faixa etária de 20 a 24 anos o percentual chega a 88,37%. Já entre os indígenas entre 25 e 34 anos, o percentual chega 83,9% e entre os que tem entre 35 e 44 anos o índice chega a 73,89% de alfabetizados.
Para efeitos de comparação, em 2010, a população indígena do Estado era de 17.578 pessoas, das quais 13.266 eram alfabetizadas e 4.186 não eram alfabetizadas. Isso significa que, naquele momento, no conjunto, 76,01% da população era alfabetizada e 23,99% não era alfabetizada.
Alfabetização na EJA
Além dos diversos programas voltados para a alfabetização no governo do Estado, um se destaca pela sua importância social, a de jovens e adultos nas escolas estaduais. De acordo com o chefe de Departamento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), professor Jessé Dantas, trata-se do primeiro segmento do ensino fundamental, carinhosamente chamado de Ejinha.
“O primeiro segmento da EJA representa uma nova oportunidade para aqueles que, por diversos motivos, não puderam iniciar seus estudos na idade regular e, por isso, já a partir dos 15 anos, é possível ingressar no ensino fundamental. Além de alfabetizar e fortalecer competências básicas, o primeiro segmento também capacita os alunos para uma participação mais ativa na sociedade”, afirma.
Atualmente, o primeiro segmento da EJA é ofertado em 55 escolas da rede estadual de ensino e atende em torno de 2.130 pessoas, matriculados somente neste ano de 2024. “Iniciar a educação formal por meio da EJA amplia as oportunidades de emprego e melhoria da renda”, explica o professor Jessé Dantas.
Entre outras habilidades, além da leitura e da escrita, o primeiro segmento da EJA também ajuda a desenvolver no aluno o ensino da matemática. “Isso é de grande importância para promover a inclusão social e a cidadania e proporcionar a esses alunos uma nova oportunidade de acesso à educação básica”, destaca.
“O foco da EJA é transformar a vida dos estudantes, proporcionando a eles o acesso ao conhecimento e a confiança para enfrentar os desafios do mundo moderno. Assim, a oferta da EJA nas escolas estaduais do Acre é uma iniciativa que vai ao encontro das necessidades da comunidade, proporcionando inclusão, dignidade e esperança para aqueles que buscam retomar seus estudos”, afirma.
Sonha em ler a bíblia
O programa Alfabetiza Acre/EJA, sob a coordenação do Departamento de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), proporciona a transformação de vidas.
É o caso da aposentada Maria Olívia da Costa, que estuda em uma classe aberta na escola Cristina Maia, no bairro Cidade do Povo, em Rio Branco. Ela já consegue assinar o nome, diz que vai tirar a nova carteira de identidade, já assinada por ela e que seu sonho é ler a bíblia.
Dona Maria Olívia não teve vida fácil. Quando o pai e a mãe faleceram em Pauini, no interior do Amazonas, ela foi trabalhar em uma casa de família onde lavava e cozinhava. Devido aos maus tratos da patroa, fugiu aos 15 anos, quando se casou e foi morar em Manoel Urbano, onde chegou a conseguir uma casa para morar.
“Agora eu tive essa chance de estudar. A nossa professora é maravilhosa, eu já até consigo assinar o meu nome e até já pego o ônibus sozinha. Meu sonho agora é continuar os estudos e se Deus quiser, ler a bíblia também”, faz questão de relatar a dona Maria Olívia.